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sábado, 24 de abril de 2010

O QUE É EDUCAÇÃO


MINHA RESENHA

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. São Paulo: Brasiliense, 2006. (Coleção primeiros passos; 20)


O livro “O que é educação” é recomendado á todos aqueles que pensam na verdadeira essência do educar, seja individual ou comunitário.
O autor usa a história de uma carta que governantes dos Estados Unidos, Virgínia e Maryland enviaram a uma tribo de Índios das Seis Nações após um tratado de paz, pedindo que mandassem alguns jovens para estudar em suas escolas. Os índios por sua vez, recusam cordialmente o convite, dizendo que os métodos de educação deles são diferentes dos seus, e que depois de terem alguns de seus jovens estudado em escolas da América voltaram à comunidade totalmente ignorantes quanto a rotina da tribo. Mas também convidam alguns jovens americanos para aprenderem com eles, dizendo fazer deles verdadeiros homens.
Com isso, quer mostrar que em cada cultura existe, ou deve existir uma forma própria de Educação. Educar não se limita mais às quatro paredes da escola. O aprendizado pertence à comunidade e deve atender ás suas necessidades, mas não como um padrão pré-estabelecido.
Para Brandão, a educação atua sobre a vida e o crescimento da sociedade, tanto no “desenvolvimento de suas forças produtivas”, quanto no “desenvolvimento de seus valores culturais”.
Cada sociedade já vem com um modelo pronto de educação não dando aos educadores a oportunidade de ir além na arte de ensinar.
Assim como defende Lino de Macedo em Ensaios Pedagógicos:
“... Sei que não basta a consciência das influências da escola tal como ela está constituída. Para realizar uma escola em outras bases, é importante compreender as diferenças entre o que ela é e o queremos que ela se torne.”
Hoje a educação que faz parte desta sociedade injusta tem servido de classificação, assim como na Grécia o modelo de “adulto educado” é aquele de família nobre que em sua realidade tem apenas que se entregar aos estudos e á filosofia, enquanto os pobres aprendem a viver apenas trabalhando na agricultura.
Assim afirma o historiador, poeta e filósofo grego Xenofonte:
“Só os que podem criar os seus filhos para não fazerem nada é que os enviam à escola; os que não podem, não enviam.”
A educação grega não é voltada para a criança, e sim para aquilo que ela virá a se tornar, no caso espera-se que se torne um adulto perfeito.
Em Roma a educação começa dentro de casa com a família, enfatizando os valores e a moral, espera-se dessa criança que ela saiba conviver em sociedade, visando o bem-comum. Na educação romana o modelo ideal é o ancestral da família, depois o da comunidade.
Nossa cultura é baseada em leis, uma delas é:
“Art. 1º. O ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-realização, preparação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania”.
(Lei 5.692, de 11 de agosto de 1971).
Leis, como a citada a cima acabam sendo apenas teoria, e a educação ainda contínua longe de ser um direito de todos, e é por conta disso que o Brasil ainda se encontra entre os países com maior índice de analfabetismo. Nossa educação continua sendo de estrutura classista, pois só tem um ensino de qualidade uma minoria privilegiada.

A educação como forma de mudança é outro assunto presente na obra. Aliás, todo método de ensino e aprendizagem precisa ser reavaliado regularmente e atender ás necessidades de cada comunidade. Não dá mais para o professor ser apenas a autoridade na sala de aula, e o aluno um gravador que apenas reproduz aquilo que ouviu.

Para Brandão a escola entre quatro paredes é o espelho do mundo lá fora. O que faz total sentido, pois numa escola, onde o aluno é apenas um expectador, e as leis são ditadas sem que ele tenha se quer o direito de questioná-las, o cidadão que se quer formar é aquele que aceita a injustiça, não luta por seus ideais e que lá fora será mais uma vítima do sistema. Sistema este que planta justamente uma educação baseada apenas em seus interesses políticos.

A obra é fantástica, e deveria ser lida por todos os educadores que buscam uma maneira de inovar seus métodos de ensino e pensamento. É uma motivação para saber que não estamos sozinhos na luta por uma educação mais justa e ao alcance de todos.

O autor faz com que pensemos em assuntos que muitas vezes passam despercebidos, mas que são essenciais na educação, fazem a diferença.

Além disso, fazemos uma viagem na história da educação, podendo perceber que cada cultura, a seu modo exerce uma pedagogia adequada a seu tempo e realidade.

“Reinventar a educação” é a proposta que o autor traz, agora cabe a nós educadores da nova geração nos posicionar como verdadeiros mediadores de sonhos, e não mais como ditadores da realidade.

A resposta do que é educação não está na escola, está na vivência de uma prática docente que nasce de dentro para fora, e que se manifesta através das ações que realizamos em favor do outro.

Nossa responsabilidade como professores hoje, é plantar um ensino de qualidade, para a formação de homens justos, autônomos e capazes de reinventar uma nova sociedade, onde reine a justiça e a paz e que como frutos, colhamos não o reconhecimento por nossas obras, mas um futuro melhor para nossos filhos.

“... Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.”

(João Guimarães Rosa/ Grande Sertão: Veredas)

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